Chitãozinho e Xororó: ensaios para nova turnê e DVD (Foto: Iwi Onodera)
Oito shows por mês. Este é o limite de apresentações feitas por Chitãozinho e Xororó após as mais de quatro décadas de carreira. A marca foi imposta pelos próprios irmãos em busca de qualidade de vida.
“A gente já passou por todas as etapas: correria, desgaste, muito compromisso na agenda, cobrança de gravadora para lançar discos. Quando a gente foi se dando conta de que não poderia se deixar levar pelo mercado, as coisas mudaram para nós”, afirmou Chitão em conversa com o EGO no restaurante SeoRosa, em Campinas (SP), onde os irmãos moram. “Quando o público paga o ingresso para te ver, ele quer ver o melhor sempre. É como um produto. Se você compra uma bolsa, quer ver a bolsa inteira. A gente tem que se cuidar”, completou Xororó.
Dessa maneira, a dupla vai na contramão de muitos artistas, que comemoram a agenda com mais de 20 shows por mês e passam a maior parte do tempo nas estradas. Para esses artistas, Xororó deixa um conselho. “O que eles precisam é dar uma direcionada melhor na agenda para conseguir fazer melhor o trabalho. Essa coisa de fazer dois, três shows na mesma noite, a gente também já fez. Mas é uma loucura. Acaba com a saúde, ou, Deus me livre e guarde, com a vida, como aconteceu com nosso amigo Cristiano Araújo”, afirmou o sertanejo, relembrando a morte do cantor em 24 de junho.
Novo trabalho
Apesar do longo tempo de carreira, Chitãozinho e Xororó não se acomodam. Meses depois do lançamento do CD “Tom do Sertão”, a dupla está em estúdio para preparar a nova turnê, que vai virar um DVD dirigido por Jayme Monjardim. O novo álbum em vídeo terá uma pequena alteração no nome. “O show do DVD será ‘No Tom do Sertão’. É uma maneira que a gente encontrou de colocar outras canções, incluir clássicos nossos, mas com o mesmo estilo dos arranjos ao do CD”, explicou o cantor, sobre o álbum que traz releituras de clássicos de Tom Jobim.
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
Essa intensa busca por novos projetos e ideias é uma constante na carreira dos irmãos. “Sempre fomos reconhecidos por estarmos nos reinventando, antenados em relação ao mercado mundial”, afirma Xororó, explicando que a produção de álbuns não é por nenhuma pressão. “Há muitos anos não temos pressão para nada. Nós já temos a direção da carreira há mais de dez anos e fazemos o que gostamos”.
Preconceito
Fazer o que gosta e seguir a própria intuição, aliás, é uma marca da dupla Chitão e Xororó desde o início de carreira. Em um tempo em que sertanejo era sinônimo de música caipira, os irmãos chegaram ao mercado com acordes de guitarra e bateria, sofrendo o mesmo preconceito que muitos artistas do atual cenário vêm enfrentando. “Os conservadores não gostavam. Me lembro que as pessoas mais antigas, que eram acostumadas com a moda de viola caipira, chegaram a falar mal. Só que a gente já sabia que aquilo seria o futuro. Acreditamos naquilo e deu certo”, relembrou Chitão.
Prefiro ganhar menos, mas ter essa liberdade de voltar do show para estar bem."
Xororó
O cantor ainda apontou um ponto positivo no tal preconceito: ajuda a filtrar os artistas que vão permanecer no mercado com o passar dos anos. “É isso que vai acontecer. A música de balada é muito momentânea. Os próprios cantores sabem disso. Tem hora que o público satura e vira as costas. É até um pouco cruel. Hoje, quem é muito sucesso, pode amanhã não ser praticamente nada”, completou Xororó.
Chitão ainda afirmou que não concorda com a opinião de Sérgio Reis, que afirmou ao EGO que o sertanejo universitário não tem nada de sertanejo. “Não concordo. É diferente. É um som atual, evoluído. Mas a origem deles é a mesma que a nossa. Eles são de uma geração nova, tem que ser diferente. Gosto do que estou vendo agora. Não gosto de umas coisas muito rápidas, dançantes, de muita conversa de balada. Isso não vai ficar mesmo”.
Aposentadoria
Em diversas apresentações, assim que Xororó deixa para o público o refrão de “Evidências”, ele costuma brincar que, se pudesse, seguiria cantando para o resto da vida. Questionado se a frase é referência a uma possível aposentadoria em breve, o cantor nega. “É uma brincadeira. A gente não consegue parar. Mas a gente tem que saber, também, até onde a gente tem o respeito do próprio público. A gente tem que saber o momento certo, mas não tem data (para aposentadoria). É óbvio que um dia vai acontecer”, afirma Xororó, que citou Paul McCartney e Roberto Carlos para mostrar que não existe idade para o fim de uma carreira musical. “Quando você faz o que gosta, é difícil parar”.
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
Segredos da carreira
Prestes a completar 45 anos de carreira, a dupla apontou alguns dos segredos para se manter no topo e em atividade durante todo esse período. Um deles diz respeito a um apelido de Xororó: o cantor é chamado de Cuco. “O Chitão saiu com essa brincadeira, porque o Tinoco falava isso do Tonico. Ele só colocava a cara para fora de casa para cantar e voltava. Mas é realmente isso. Sou muito caseiro mesmo. Minha família é minha fonte. É onde me fortaleço. Se eu ficar três dias fora de casa, começo a me sentir mal”, afirmou Xororó.
O cantor explicou que, por muitas vezes, faz o show e volta para dormir em casa. Com exceção, claro, se a apresentação do dia seguinte for em uma cidade próxima a outra. “Ninguém é maluco de rasgar dinheiro. A gente paga por isso. Prefiro ganhar menos, mas ter essa liberdade de voltar do show para estar bem”.
A música de balada é muito momentânea. Os próprios cantores sabem disso".
Chitãozinho
Os outros segredos da longevidade da dupla, segundo eles, são: saber escolher as músicas para cada voz e personalidade e entender o que cada música precisa para passar a mensagem certa e o respeito. Quanto a esse último tópico, eles citam tanto o respeito entre eles quanto o pelo público. “A gente tem a regrinha: meu espaço termina onde começa o seu. Isso é fundamental. Não só para a carreira. Mas para a vida do ser humano”, explicou Xororó, falando sobre a importância da individualidade dos irmãos.
“Outra regrinha muito básica é respeitar o teu fã. O mesmo trabalho que você tem em desprezar ou virar as costas para o fã, você tem de atender. Hoje, você sai de casa e deixa de ser o cidadão comum para ser o artista. O fã que olha, quer uma atenção. Às vezes, basta um olhar, um sorriso, um adeus. Isso é fundamental”, completou.
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
Chitãozinho e Xororó (Foto: Iwi Onodera)
